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O
fascínio da Genética na Canaricultura
O canário,
entre as aves, é uma que exerce verdadeiro fascínio sobre o homem, atraindo-o
não só pelo seu belo canto, como mais precisamente pela beleza e riqueza de
suas plumagens com miríades de detalhes que nos enchem os olhos. Em razão
disso, o canaricultor, na esteira do tempo, procura a determinação do biótipo
ideal, que apresente as características estéticas por ele
almejadas. O mais comum é o acasalamento de espécimes que
apresentam características harmônicas e compatíveis com os padrões
estabelecidos pelo homem como estéticos, sinônimo de bonitos.
Porém, é necessário fazer-se uma indagação. Por que se cruzando um
campeão (91 pontos) com uma campeã da mesma pontuação, muitas vezes o resultado
se mostra uma frustração Os resultados, biotipologicamente, podem ser um
desastre, não se parecendo os filhotes nem de longe com os pais campeões, já
que estes possuem características invejáveis.
Outras vezes, cruzamos campeões com canários do plantei sem grandes atributos
biotipológicos desejados, e, de igual modo, os resultados se apresentam
frustrantes. Tais cruzamentos originaram filhotes com características decepcionantes.
Outras vezes, ainda, espécimes sem grandes qualidades foram cruzados,
resultando em indivíduos com características excepcionais, verdadeiros
campeões, a espelhar os padrões estéticos estabelecidos pela
canaricultura.
E surgem a eterna dúvida e a devida e constante indagação: porquê?
Hoje se procura a resposta na ciência em evidência, com enormes avanços no
estudo do aperfeiçoamento biotipológico e físio-metabólico dos seres vivos, a
genética.
Com a devida
licença, é necessário nos reportarmos a certos conceitos dessa ciência
fascinante, absorvente e embriagadora.
De curial conhecimento, que as células germinativas portam uma dupla helix
constituída de proteínas e bases nitrogenadas, que compõem o DNA (sigla inglesa
para o Ácido Desoxi Ribonucléico).
São os denominados genes, biopartículas encontradas no núcleo das células
germinativas e somáticas. Esses genes portam as características
físio-metabólicas e biotipológicas do indivíduo. Em realidade eles são os
responsáveis pela guarda das características ancestrais transmitidas pêlos pais
ao portador. Reúnem-se em grupos, enrolando-se em novelos e dando origem á
denominada cromatina. No momento da fecundação, esse novelo se
desenrola, originando os cromossomos em forma de bastonetes, em pares,
que na espécie do canário (Serinus canarius) são em número de 18 a quantidade
de pares varia de acordo com a espécie animal. Cada espécie animal possui,
assim, diferentes números de cromossomos, os quais transmitem caracteres
diferenciais.
Esses cromossomos são de dois tipos: os autossômicos e os gonossômicos, também
denominados sexuais. São eles responsáveis pelas cores e brilho das penas, pelo
tamanho do bico, dos olhos e da cauda, volume da cabeça, forma e tortuosidade
da coluna, bem como pelo porte do canário. Enfim, por todas as
características do pássaro.
Os
cromossomos andam sempre juntos, formando pares chamados alelos. É que na
reprodução sexuada, no momento da fecundação do ovócito pelo espermatócito, na
célula feminina (que se transforma em célula ovo), se apresentam dois
núcleos que se fundem, resultando duas cromatinas. Estas, nesse momento, se
desenrolam, formando 18 pares de cromossomos o paternos e 18 pares de
cromossomos maternos, portando as características de cada pai, os quais se
posicionam em paralelo e a seguir se entrecruzam no chamado crossing over após
o que se dividem, formando os cromossomos portadores de todos os caracteres,
agora já dos dois pais, transmitidos ao novo indivíduo.
Os cromossomos são constituídos de genes que apresentam uma peculiaridade
intrigante, em uma relação de domínio e recessividade. Daí a
característica de um gene dominante ativo e um correspondente recessivo
inativo. Dessa forma, somente as características dominantes irão se exteriorizar,
ficando inativo o gene recessivo. Porém, na proporção de 3:1,
pode o gene recessivo se exteriorizar.
Portanto, o indivíduo é resultado das características dominantes e recessivas
transmitidas pêlos pais, e dependendo da combinação destas características, o indivíduo
pode ou não apresentar um biótipo dentro de padrões desejados e almejados,
aceitos como estéticos.
Nos dias de hoje, com os avanços da genética, que reproduz indivíduos com as
mesmas características do doador dos genes, já há muita gente sonhando com a
reprodução e formação de um plantel de campeões, com os padrões de caracteres
destes, através da denominada clonagem.
Esta se resume em remover da célula ovo o seu núcleo e nela introduzir o núcleo
de uma célula somática, de qualquer parte do organismo de um doador, núcleo
este que já porta as características que o doador possui. Desta forma, através
de estímulos, induz-se a reprodução e a multiplicação celular, formando um
indivíduo com as mesmas características do doador, que pode ser um canário campeão.
Porém, tal sonho ainda se encontra longe de ser concretizado. O que
se vislumbra promissor, conquanto já sofra críticas, é a utilização de um
instrumento genético denominado in-breeding, quer dizer, o cruzamento
consangüíneo, para tentar o aprimoramento e a obtenção de características
desejadas. De fato pesquisadores europeus têm desenvolvido técnicas
que parecem promissoras à obtenção de espécimes dentro dos padrões de
conformação e beleza.
Em nossa forma de ver, é somente através do estudo e da aplicação da genética
que todo o canaricultor pode realizar o seu sonho de produzir cada vez mais
campeões.
Entretanto, entendemos que para a concretização do in-breeding, o canaricultor
necessita mais de genética prática e sobretudo de paciência para obter bons
resultados e melhores exemplares de canários para o seu plantei.
Em linhas gerais, a técnica prática consiste inicialmente no cruzamento de dois
exemplares, se possível com parentesco, escolhidos entre os que melhores
características apresentam, dentre as desejadas, para o cruzamento inicial do
in-breeding.
Desse cruzamento irá resultar filhotes que passam a portar 50% de genes
paternos e 50% de genes maternos, denominados de indivíduos
heterozigotos, porque resultantes de uma linha genética cruzada também
denominada de mista, vez que portam genes dominantes e recessivos.
O passo seguinte é a observação das características mais desejadas impressas
nos filhotes, se são do pai ou da mãe. Constatando-se que os filhotes se
parecem mais com o pai, por evidência o pai possui uma carga maior de
genes dominantes. Se houver maior semelhança com a mãe, os genes
dominantes serão dela.
Assim
poderemos escolher o exemplar que será o ápice da linhagem a ser utilizado no
line-breeding. Entretanto muitas vezes pode ocorrer que os
filhotes não portem características nem do pai, nem da mãe. Isso se deve
a lei de Mendel, que estabelece o resultado na proporção de 3:1.
Em seqüência, no segundo ano, tornando-se por exemplo que o macho seja portador
de genes dominantes, acasala-se o mesmo com a melhor de suas filhas, e caso
contrário, se for à fêmea a portadora de genes dominantes, cruza-se essa com o
melhor dos filhos do primeiro cruzamento.
Dessa forma,
os filhotes originados desse segundo cruzamento passam a portar 75% das
características dominantes, conforme o caso, do pai ou da mãe originais, ápice
do line-breeding.
Em um terceiro ano, cruza-se o pai ou a mãe originais ápice do line-breeding
com os melhores dos filhos e assim teremos bisnetos do macho ou da fêmea já
portando 87,5% dos genes dominantes que determinam as características
desejadas.
Subseqüentemente em um quarto ano, acasalando-se o ápice do line-bredding, ou
seja, o macho ou a fêmea originais escolhido com os melhores filhotes do terceiro
cruzamento, os exemplares resultantes desse cruzamento portarão 93,7% da carga
genética dominante, de tal forma que pode se entender que se obteve
line-breeding de exemplares dominantes puros, que são denominados tecnicamente
de homozigotos.
Concluindo, é de se ter conseguido exemplares com características genéticas
(93,7% de genes dominantes), constituindo-se em uma fixação genofenótipica
portadores de características altamente desejáveis e em muitos casos
excepcionais, podendo ser o início de uma linhagem de canários ideal e
ambicionada em qualquer plantei, ao serem cruzados com exemplares de outra
linhagem.
Em nossa forma de ver, a genética exerce de forma surpreendente um fascínio ao
canaricultor, no aprimoramento e busca incessante de melhores e mais lindos
exemplares.
Dr. José
Antônio Cardinalli
Professor Universitário
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