Lizard - História
Desde há muito que as aves fazem
parte da companhia do homem, quer para alimentação, quer de estimação e até
para trabalho como as emas, os gansos, os mergulhões, os pombos-correios e
muitos mais. Lembro-me que no tempo da guerra colonial portuguesa os soldados
muitas vezes traziam um periquito, ou um papagaio ao ombro, o seu companheiro
de tantos anos de solidão e medo.
... e havia o canário, serinus canaria predilecto da nobreza e clero, em
tempos muito mais recuados. Na nobreza por ser fino e pela grandiosidade do
seu canto que deslumbrava. No clero, pela paz e pureza relacionados não só
pelo canto, mas também pela mística espiritual que envolve a companhia deste
maravilhoso passarinho. Ainda hoje monges cristãos, criam canários dando-lhes
amor e recebendo em troca amor também. Só quem criou canários pode
compreender a riqueza espiritual que esta ave proporciona, talvez a grande
resposta do porquê criar canários.
O Lizard é a raça mais antiga de canários que não sofreu alterações na sua
forma, apareceu no princípio do século XVI em França sendo, a meu ver, fruto
do cruzamento de um canário comum verde com um outro serinus. Pode ter sido
fruto de cruzamentos entre o canário comum e o Canário Listado, natural das
terras altas da Tanzânia, cuja aparência é muito semelhante à do actual
canário Lizard, tanto no desenho dorsal como peitoral. Pode também ter
aparecido com cruzamentos entre um canário comum e um vulgar serzino
actualmente europeu também chamado de chamariz, ou milheirinha, Serinus serinus,
que apenas surgiu no Velho Continente, vindo de África, nos finais do século
XIX, apresentando-se ainda hoje com fenótipos variados. Esta espécie aparece,
por vezes na natureza, com muitas características semelhantes às do actual
Lizard nomeadamente com listas no peito e uma aproximação de escamas dorsais.
Estes traços poderiam ter sido seleccionados ao longo dos anos, pois do
cruzamento entre canários e serzinos resultam descendentes férteis.
Não creio que tenha havido uma
mutação. Assim, possivelmente, temos o Lizard fruto de um cruzamento entre
canário comum e canário listado da Tanzânia, ou um serzino. Talvez mais a
hipótese de um cruzamento entre canário comum verde com algum serzino
Africano. A hipótese de cruzamento com o Canário Listado da Tanzânia é pouco
provável pois estes serinus vivem a grandes altitudes onde a pressão
atmosférica é muito baixa. Povoam
áreas acima dos 2000m2. E lembremo-nos que A Tanzânia era uma colónia
Inglesa e os primeiros Lizards surgiram em França. Será que existia alguma
espécie de serinus na Europa, no sec. XVI, que acabou por desaparecer
deixando-nos como herança o nobre Lizard?
Os Lizards, sem se saber porquê, aparecem em França com intuito lucrativo,
sendo levados para Inglaterra em meados do século XVI aquando da divergência
entre católicos e protestantes. Então, em Inglaterra o chamado "Comun
French Canarie" tomou a designação de LIZARD. Comparado, devido ao
desenho das suas penas, a um lagarto. Esta raça foi a única que se manteve
inalterável ao longo do tempo.
A revolução industrial no Século XIX e a melhoria da qualidade de vida, deu
em Lancashire oportunidade aos operários da indústria têxtil de conseguir
satisfazer o seu desejo de criar canários. Para o canário Lancashire e também
para o canário Lizard foi formado o primeiro clube especializado chamava-se
"ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES LANCASHIRE E LIZARD ". Esta associação
subsistiu até 1939, quando a 2ª guerra mundial explodiu. Mas esta raça,
embora tão querida de todos, sem se saber porquê, começou a rarear estando
quase extinta após a 2ª grande guerra. Foi no pós guerra que vários criadores
experientes, a partir de um reduzido número de casais, conseguiram a
continuidade da raça.
Hoje em dia começam-se a
encontrar Lizards por todo o Mundo, existindo associações dedicadas a este
género de canários, nomeadamente em Inglaterra, proporcionando exposições e
concursos exclusivos da raça.
Há muitos mistérios para solucionar neste belo passarinho como o caso do
schimel ou neve. A ave apresenta manchas brancas nos bordos das penas e mesmo
penas brancas, que aparecem no 2º ano de vida e também durante o 1º ano se
perderem penas, o que se deve evitar. Porquê este fenómeno?
É comparável ao aparecimento de cabelos brancos no homem? Ou o fruto de
uma de uma despigmentação atípica? Será que se pode contornar este defeito
através da selecção feita pelos criadores? É um bom desafio. Outro seria
conseguir-se Lizards sem coroa, que ao se cruzarem, dessem garantidamente
Lizards sem coroa e este factor fosse constituinte do genótipo.
Assim e com o propósito de assegurar o futuro do Canário Lizard,
compete-nos a nós criadores difundi-lo, com o intuito de melhorar a raça e
torná-la acessível a todos os que a desejarem criar.
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